segunda-feira, 4 de maio de 2009

bilhete - por Guilhermina e poesia para quem precisa de poesia - por Visconde

Amigos,

Deu pane. Minhas idéias parecem arquitetar uma rebelião. O computador anda me olhando de esguelha, como um larápio, um pirata, um assaltante. Chego a confundi-lo com um auditório onde as tais idéias se confinaram em reuniões intermináveis, votações sempre empatadas, posições adiadas e muita indecisão entre mim e eu.


Há um tempo na minha contramão, é verdade. Mas com tantos feriados? – vocês devem me perguntar. Queridos, os tempos internos ignoram estas convenções – é tudo que posso argumentar em meu favor.


É assim... às vezes ponho-me em reviravoltas até que volte, revirada mesmo... Melhor que somente revolta, não?


Fiquem com o Visconde, tão mais coerente. Amanhã ou depois, a Nine nos trará mais uma vez seu jeito doce. Eu já volto.

Beijo,

Guilhermina




Prezados,


Terei sido um dos últimos a assistir à Palavra (En) Cantada, por supuesto. Mas parti célere rumo a considerações. Estranhei em filme que passa em perspectiva as letras das canções brasileiras algumas ausências. Claro está que se trata de um pequeno documentário, não de minissérie. Logo, muita coisa precisaria ficar de fora, quanto mais pela abundância e excelência dos artistas envolvidos no universo musical da terra de Vera Cruz.


Mas como explicar a falta de um depoimento de Caetano Veloso (que, quando aparece, em cenas de festival, mais assemelha-se a um debilóide do que ao compositor que é)? Vitor Martins? Abel Silva, Gabriel o Pensador? E Aldir Blanc??? Prezados, como justificar a exclusão de Aldir em uma obra dessa natureza? Sem contar que a película simplesmente ignora Ronaldo Bastos e Fernando Brant, os maiores letristas do Clube da Esquina, cuja importância para uma nova estética - incrivelmente sofisticada - da música do patropi é tremenda.


Estas ausências tornam-se ainda mais incompreensíveis quando vemos um bom tempo do filme preenchido com, por exemplo, Maria Bethânia declamando Fernando Pessoa ou as falas do diretor teatral José Celso Martinez Corrêa. Esses momentos podem ter sua beleza - Bethânia é bela sempre -, mas que parentesco guardam com o tema - a canção brasileira?


Enfim...eu que faça meu próprio filme e deixe as escolhas alheias em paz. Mas não posso deixar de destacar a visão da Calca que, diante da ridícula discussão quanto ao fato de letra de música ser ou não poesia, sai-se com algo como: "A vida é muito curta para tratar disso".


Pois, por óbvio, letra de música pode ser, sim, poesia. Da mesma forma que o que chamamos poema (numa definição tosca, versos desprovidos de melodia) pode NÃO ser poesia. A quantidade de poemas sem poesia é absurda. Poesia, penso eu, é epifania. E pode ser encontrada onde quer que a contemplemos. Em "O leitor", por exemplo, que também vi esta semana, a humanidade, para o bem e para o mal, que há naqueles dois personagens principais é pura poesia. A poesia não é privilégio do que se define como poema: pode estar numa exposição de orquídeas no Jardim Botânico, numa lágrima, num pedaço de pão, numa casinha na serra, na aprendizagem de um analfabeto, no bolo da vovó, numa tarde de temporal, em adormecer nos braços da mulher amada.


Mas se o próprio Chico Buarque, o Poeta entre os poetas, diz não sê-lo no filme...Aí, é fim de papo, pois que se trata da própria poesia negando a si mesma. Não me espantaria saber que ele escreve na ficha dos hotéis mundo afora no campo profissão: astronauta. Ou auxiliar de escritório. Ou operador de telemarketing. Ou designer de jóias. Ou...ah, esse último ele é! Como ninguém.


Abraço-vos.

Rainha adorada, passo no mundo a ler, no misterioso livro do teu ser, a mesma história tantas vezes lida.

Teu,

Albuquerque.

6 comentários:

guilhermina, (ataulfo) e convidados disse...

Meu Visconde querido,

Que história será esta que de mim, a mim não se apresenta? O que será que me lês quando de mim eu mesma me escondo?
Bj
Guilhermina

Fabiano Barreto disse...

Uma confraria de titãs!!! Menos que isso essa esquina não é!

Parabéns, Visconde e Guilhermina!

Nine de Azevedo disse...

Amado Visconde ,temo que o bonito Chico Buarque sem a Marieta endoideceu!!Como letra de musica nao é poesia???Esta ai o Djavan que o desmente.As letras dele sao pura poesia.Milton Nascimento,todos do clube da esquina,Paulinho Moska,a lista seria enorme...lamento ,mas tem escolhas que sao imbativeis ,nao tem como deixar de fora!Existe poesia em tudo,é so ter uma alma que nao seja pequena.bjs e abraços a todos da esquina.Rainha saudades ,beijos carinhosos
PS.um poema para quem precisa:
Outono
jacques Prévert
Um cavalo desaba no meio de uma alameda
As folhas caem sobre ele
Nosso amor fremita
e o sol tambem

Aderbal disse...

Tenho que ir em defesa do velho Chico ! no filme em questão, assim como nos próprios dvd's que contam a trajetória de Chico Buarque, ele se desmistifica o tempo todo. Assim foi em Palavra Encantada. Na cena, Chico diz que, para evitar confusões e polêmicas, ele mesmo não se declara um poeta. E ele fala isto com a maior naturalidade, desprovido de qualquer ressentimento. Chico sabe, como nós também, que ele É sim um poeta. Acontece que ele também precisa pagar contas de água, luz e vinhos. Por isso, vez por outra fez sim músicas por encomenda. Ele mesmo demonstra que algumas de suas músicas, quando lidas tão somente, não tem o impacto poético que percebemos junto aos instrumentos. Por isso, uma PALAVRA, como ele mesmo cita, às vezes é colocada na letra da música, apenas e tão somente, para poder dar andamento musical. Achei genial! ele desce de qualquer pedestal que queiram colocá-lo. Agora, se Marieta tem algo a ver, isso eu confesso não saber.

Lua em Libra disse...

Guilhermina, toma teu tempo! Não o do Chronos, este que faz com que a gente justifique os feriados e passe recibos das horas. Toma o tempo de kairós, o tempo teu de dentro, o melhor tempo, que faz as coisas acontecerem. Instigante a discussão sobre os poemas sem poesia e da poesia que há em tudo. Até no Chico. Não. Isso seria óbvio demais: até no Chico de boca fechada. Até!
Abraços a vocês, que fazem desse blog uma delícia de esquina

Maria disse...

Guilhermina, os tempos internos realmente ignoram convenções. E que bom por isso. Estou a sua espera. Meu beijo