quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

tentar... tentei.

Companheiros de esquina,

Deu branco. Tentei falar sobre a crise. Perda, perda e perda, dinheiro, dinheiro e dinheiro. Quem é que aguenta? Enveredei então pela ecologia. Que o planeta vai derreter envolto em soda cáustica, que sem reciclagem, economia energética, consumo consciente... não vai dar, não vai dar. Impossível sobreviver... Alguma novidade? O que é que falta saber, que falta mostrar, que falta falar? A angústia da existência, então. Assunto inesgotável! Centenas de filósofos a apontar idiossincrasias... E a gente no mesmo lugar, um pouco pra cá, um pouco pra lá. Ai que cansaço! Violência urbana. Rio de Janeiro, cidade maravilhosa. Tráfico e milícia, dois lados e nenhuma diferença. Pelo amor de Deus, Guilhermina, de novo, não! Quilômetros de distancia: Faixa de Gaza. Islamismo, sionismo, razões cuspidas em bombas. Ancestrais certezas de que o inimigo é pior que nós, de que é dele a culpa e de que cada novo ataque, maior que o anterior, é somente defesa, um direito inviolável. Hã hã. Então? Então, sem tragédias, por favor. Fale de festa. Fevereiro vem aí. Carnaval, a alegria do povo! Mas o prefeito Zé Bonitinho quer saber quem paga a conta?! Que conta, minha filha? Carnaval é igual à praia. Democracia gratuita. Mas e a conta do xixi, a conta da segurança, a conta da ordem pública? Ué, e o imposto predial, o sobre serviço... a articulação com instâncias estaduais, federais? Chega, Guilhermina. Nem mais um pio! Já é tarde, vai dormir. De amarga basta a vida. Amanhã, vê se levanta com aspartame, que é diet.
Boa Noite!

Beijo,
Guilhermina
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Ei, Psiu...



segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

segundo miss Marple - por Aderbal

Quem leu Agatha Christie há de me entender. A personagem Miss Marple dizia sempre que solucionava os crimes por ser uma pessoa que gostava de observar as outras pessoas. Vez em quando me pego numa situação dessas. Estou quase defendendo uma tese sobre a amnésia alfabética. Explico. Frequentemente vou ao teatro e, confesso, gosto até do burburinho da fila de entrada. Aquele aglomerado em que as pessoas fingem que não estão nem aí para as outras que chegam, sabe? Mas o que mais me intriga é na hora de entrar na platéia e procurar o lugar. Reparem que as pessoas se perdem completamente no alfabeto! As cadeiras são numeradas e acompanhadas de letras... A1, B1, C1 etc. Até onde me consta, este é um dos primeiros ensinamentos escolásticos que recebemos, o alfabeto. Porque então, justamente no teatro, as pessoas se confundem?! Não me digam que é por falta de iluminação nem porque as letras são pequenas! ah, não! No avião, que é muito mais complexo, pois há ícones para distinguir as poltronas das janelas, do centro e do corredor, não acontece tanta confusão.


Não satisfeita, a celeuma infestou agora os cinemas da cidade. Temos que procurar nossas poltronas numeradas, também na sala do cinematógrafo! Isto é o pior, pois antes ainda dava para pular uma... Trocar de lugar por conta do cabeção na frente... Fugir do casal que está tentando fazer um filho ao seu lado... enfim, complicou geral!


Mas voltando ao teatro, é impressionante como as pessoas ficam confusas, perdidas, disléxicas até, mediante uma simples combinação de Letra + Algarismo (ainda bem que não são os romanos).


Aderbal




quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

um ano de outono

2009 ainda vai bambo das pernas e já está aí Obama empossado entre referências à Roosevelt, Lincoln e Kennedy; o horror de Gaza em trégua de algozes e algozes, mas ainda longe da solução; a crise mundial doendo no corpo e na alma do crédito e da esperança.


Por aqui, nesta cidade escaldante, o Paes segue às voltas com seu choque de ordem no reinado da contra-ordem, metade abandono a outra metade de-formação; as favelas crescem na progressão do risco das encostas; a milícia extermina um por dia para não nos deixar esquecer que a vida vale quase nada...


E eu confabulando com os botões; olhando pra dentro, espiando pra fora. Anteontem mesmo, sentei com Ataulfo e Dona Flores em outra esquina, esta real, e conversa que vai, papo que volta, paramos na constatação de que estamos em pleno ano de outono. Um ano de desfolhamento, de aragem, de obediência ao que tem que morrer para renascer, sabendo que nada re-nasce o mesmo, até porque isso seria mera repetição.


Repetimos o que não aprendemos, o que não entendemos e que, por isso mesmo, clamamos por outra chance, por outra tentativa. Repetimos por vício, por neurose, por preguiça, por empacamento, teimosia e medo.


Renascer é outra coisa. Para isso é preciso morrer. Deixar morrer. Reconhecer um fim, por insucesso ou simplesmente por constatação de uma última etapa de determinado processo, que não pode ser esticada nem adiada. São necessárias muitas mortes até o definitivo apagamento. Um ano de outono é um ano de descarte, de contemplação de folhas pardas deitadas sobre o solo e galhos vazios – esqueletos de uma nova geração. Uma ano que aguarda. Não espera. Ao contrário, vigia a limpeza dos sótãos e dos porões. Um ano de interiores, de tratamento, de entrega à revitalização.


Aqui, nesse trópicos, não conhecemos a hibernação do inverno; o ápice do encolhimento. Nossa natureza ensolarada funciona como um disfarce a esta etapa de todo processo. Isso, no entanto, não quer dizer que ele não exista, mas tão somente que fomos privilegiados pela incidência do sol. Se agradecemos tanta luz, carecemos de um cuidado a mais: óculos com lentes protetoras. Para que não fiquemos cegos.


Beijo,

Guilhermina


sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

carta aberta à amiga


querida,

É vívido em mim o tempo em que nos conhecemos. Achávamos que éramos tão parecidas. Gostávamos de coisas semelhantes, conversávamos sem cerimônia, e mesmo alguma diferença de idade não fazia impedimento às confidências, à divisão das angústias, aos relatos das nossas descobertas. Éramos povoadas de certezas: dos caminhos que trilharíamos, do afeto que seria sempre presente, dos momentos que partilharíamos na vida de uma e da outra. E mesmo que alguém nos maldissesse, um saber anterior, sobre o seu caráter e o meu, daria conta de blindar nossos ouvidos e fortalecer o nosso abraço.

Seríamos parceiras no tempo, sócias no espaço, testemunhas da história, confidentes daquelas coisas que não ousamos dividir com ninguém, ou quase ninguém. Confabularíamos só com olhares, sem tradutores nem intérpretes. E não é que foi assim? No meio da roda, fervilhando uma discussão, um comentário que nem lembramos mais de onde vinha, fazia nossos olhos se procurarem como imãs. Às vezes, abaixávamos a cabeça para rir sem “dar bandeira”; outras vezes, apenas registrávamos aquele algo para comentarmos depois.

Algumas pessoas nos chamaram de ingênuas, o que só aumentava nossa convicção de que construíam muros onde fincávamos as estacas da nossa ponte. Outros debochavam: “par de jarros”, “Cosme e Damião”... “siamesas”. Pura inveja — era a nossa resposta silenciosa. Um acordo tácito.

Um dia, sem que soubéssemos exatamente precisar quando, surgiu o primeiro ressentimento. Nada sério, só exatamente como a palavra diz, um sentimento que voltava, que insistia em avisar alguma coisa que a gente não queria ouvir. Não adianta agora perguntar o quê, a resposta talvez nem faça mais sentido. Melhor deixar pra lá, reduzir a alguma circunstância, engavetar. Um pouco mais adiante, outra vez, outro tropeço... A palavra enviesada, o olhar no vácuo, o tom fora de sintonia. Veio a fase dos “papos cabeça”. Aqueles que consomem horas procurando no vocabulário a reparação dos atos desastrados. E como referências não se quebram assim, seguíamos no dia seguinte, tateando no entardecer daquela cumplicidade.

Uma parte a vida anda, o corpo enferruja, o cotidiano se põe nas demandas dos números, das lições, das perdas, das aflições e interesses. Uma parte, as novas associações, casamentos, filhos, mudanças de rumos... Sabe-se lá onde encontrar a culpa das nossas distrações, dos nossos endurecimentos, dos nossos equívocos...

Fato é que nem reparamos que abandonamos também as tentativas de retificações. Não percebemos as infiltrações, as rachaduras, o cheiro de mofo, o silêncio que não era mais entendimento, mas distância.

Se aconteceu alguma coisa? Nada com letra maiúscula, e tantas pequenas desistências que foram virando grandes traições. Possivelmente nem falaríamos de falta de afeto. Provavelmente justificaríamos em “apenas” diferenças entre a necessidade de uma e a disponibilidade de outra. E julgaríamos igualmente sós: compreensível em nós, impedimentos dela.

E se alguém perguntasse, por curiosidade ou por maldade, sobre a ausência da outra, escolheríamos as palavras para dizer que são coisas da vida, sempre muito ocupada, sempre tão difícil, sempre assoberbada. Ainda garantiríamos o coração aberto para a hora que a outra precisar. E seria honesto, seria verdadeiro.

Assim, quando passamos a garantirmo-nos em permanência para o caso de necessidade, ao mesmo tempo em que ensinamos ao desejo a renunciar uma à outra, certificamos ao orgulho sua vitória; à solidão, o triunfo e à pobreza, o reinado sobre a existência. Se a confiança só existe na entrega mútua, o afeto se é mudo, é vão. E sem mãos jardineiras, padece.

A restauração não é o ofício do remendo. Ao contrário, é a arte sobre a arte. Trata-se da dimensão humana do divino e exige sensibilidade, além de destreza técnica, paciência e humildade. Uma arte nobre servil. Uma nova ordem, aspirante de um novo tempo.

Beijo,
Guilhermina

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

maioria medi-ocre?

Tem gente que acha ética coisa de otário. Espertos corrompem.

Tem gente que acha que delicadeza é coisa de submisso. Líderes ordenam.

Tem gente que acha a pobreza coisa de incompetentes. Os competentes fazem qualquer coisa, até roubam.

Tem gente que acha que trabalho é coisa de plebe. Nobres têm vassalos.

Tem gente que acha que servir é para os fracos, os fortes são servidos.

Tem gente que tem certeza que o amor é para os idiotas, aos sábios basta o conhecimento.

Tem gente que acha que deveres é coisa de pobre. Ricos só têm direitos.

Tem gente que ainda acha que a obediência é feminina. Machos, só no comando.

Tem gente que acredita que a adoção é uma mentira. Legítimo, só o genético.

Tem gente que acha que a cor da pele determina a qualidade do caráter.

Tem gente que acredita que mulher com mulher dá jacaré e homem com homem dá lobisomem...


Se essa gente constitui a maioria, melhor acabarmos com a democracia.


beijo,

Guilhermina

nave-terra



Já faz algum tempo, e ainda assim é impossível esquecer a primeira vez em que dentro da Spaceship Earth, em Epcot Center, depois de ir sobrevoando a história da comunicação através dos tempos, o carrinho-nave girou sobre seu eixo e projetou-me “no espaço sideral”. Lá estive, por alguns minutos, eu e as estrelas. Poucas vezes vivi esta experiência sensória da minha existência. Tudo e nada, em busca de ser alguma coisa.

Ali, no “Mundo do Futuro”, habitando a alma do globo terrestre, com a tecnologia ao mesmo tempo diante dos olhos e sob os pés, o virtual me convocou a me ver, enquanto atravessava os capítulos da tentativa de fazer parte da ação comum – o mistério e o prosaico; o eu e o pertencimento.

Ultimamente, venho me sentindo assim. Aqui, desta cadeira, diante da tela, viajo. Nesse simulacro da vida, o portal do mundo se escancara sem muita cerimônia, dando-me passagem aos lugares mais distantes que se abrem em janelas, na velocidade de um piscar de olhos.

O que de verdade, o que de parte, o que de puro fingimento. O que de disfarce, o que de ilusão, o que de defesa... não tenho a menor idéia. Mas onde as temos? É claro que faltam as texturas, os cheiros, os paladares... Mas abro e fecho as janelas como se dominasse o mundo pelo meu controle remoto. Aperto um botão para Aceitar ou recusar o que for. Simples assim.

Agora dei para passear por blogs. Se o poeta é um fingidor, o que dizer de uma Poetriz? Naquele pequeno sítio, povoado de confetes, mas sem serpentina, ela arruma a mesa para Clarice, Pessoa, Caio Fernando, Drummond, Vinícius sentarem-se entre outros e, imaginem, ouvirem nossos mais prosaicos comentários. Se é virtual, é melhor que realidade.

Vou um pouco além, E leitores encarnam fábulas. Um webdoor de letras e convocações a passear por elas. Este ano, acreditem, o Lector in Fabula traz um desafio: 50 livros! Sem apelações para tecnicismos e outras doutrinas. Só vale fantasia, nem que sejam emprestadas da vida real.

A estrada é longa e cheia de bifurcações. Na hora das novidades é possível escolher entre o futuro que sempre se anuncia em Favoritos ou as dicas das mil mariazinhas que existem em cada uma de nós. Ela fala e sai andando. Quem quiser que a acompanhe... Não é mesmo a toa que mulheres vão ao banheiro sempre em companhia.

De qualquer maneira, só não é permitido perder o bonde. Quem é vivo sempre aparece para um dedo de prosa e ao final, uma indicação do destino. Entre no bonde sem medo de errar. É para isso que existem atalhos e retornos.

No final das contas, se Web é rede, haverá sempre os que tecem como constroem pontes e os que ficam paralisados, como presas de uma teia. Mas não é sempre assim? Depois da Farinhada, cada um não dá a sua farinha o destino que lhe apetece?

beijo
Guilhermina

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

piratas e palhaços

Eu me lembro que estudava economia

e numa de história escutei sobre

queimar arroz para regular o preço do produto.

Vem cá, que mundo é esse em que

se queima comida quando as pessoas passam fome?

...

Eu me tornei então palhaço porque

o palhaço é um delator subversivo.


dr. da alegria Cmte Nelson


Primeiro dia do ano e somos brindados com o que nos vem por aí – “os eduardinhos” – cômico, se não fosse trágico. E ainda tem coragem de dizer em bom som que não combinaram nada! Será que não se dão conta de que sendo assim, é mais grave!? Quantas exclamações serão necessárias para traduzir espanto e indignação? Palhaços?!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Ops! Palhaços, não. Ocorre que acabei de ver o documentário sobre os Doutores da Alegria e fui tomada de tal encantamento que retirei do filme algumas condições para ser palhaço. Seguem as principais:


Estatuto do Palhaço


Art nº1 – Só pode ser palhaço quem tem o improviso como condição de existência. (O improviso é SER a cada momento, sem tempo de pensar como seria). (dr. Zabobrim)

¶ único – O improviso é criar na interação com o outro – para isto, você tem que estar vazio e aberto para receber os estímulos do outro e responder com sinceridade e transparência. (dr. Comte Nelson)


Art nº 2 – É necessário dar uma rasteira no próprio ego para que nunca coloque suas próprias habilidades e o virtuosismo acima da relação com o outro. (drª. Ferrara)


Art nº 3 – É recomendável aprender uma incondicionalidade para olhar o outro. Libertar-se de juízo anterior, trocar a lógica e a razão pela originalidade e pela subversão. (dr. Zinho e drª. Valentina)


Art nº 4 – Há de saber eternamente ser novo de novo; e funcionar no 100%, o que quer dizer trazer o interno para fora sendo inteiro no que faz. (drª Serena e dr. Clóvis Socó)


Art nº 5 – Faz-se fundamental reinventar o mundo, criando uma realidade diferente para aquilo que a gente não se conforma que seja como parece ser.

¶ único – Para isso, é necessário treinar o jogo de cintura de dizer o que está nas entrelinhas e que não se diz por falta de coragem. (dr. Zozinho)


Art nº 6 – É imprescindível trabalhar a sua essência e a sua verdade, sob pena de não o fazendo, ser um palhaço ruim. Vale um alerta: Um palhaço ruim pode fazer mal a saúde. (dr. Cizar Parker)


Art nº 7 – Bagunçar a hierarquia é uma condição inegociável. É preciso ter a certeza de que somos todos iguais – potenciais vítimas de uma porta na cara. (dr. Zinho)


Art nº 8 – O palhaço tem que saber perder. E isso só é possível por sua condição de ressurgir sempre para fazer de novo. (dr. Zabobrim)

¶ único – a possibilidade de não trabalhar com as respostas, mas brincar com as perguntas é um recurso valiosíssimo. (drª. Serena)


Art nº 9 – É permitido calejar como meio de proteção à continuação do seu ofício (como os dedos do violonista), mas calejar na abordagem do outro constitui crime gravíssimo, sujeito à cassação. Nunca, em nenhuma hipótese, uma pessoa poderá ser tratada como somente mais um. (dr. Clóvis Socó)


Art nº 10 – O palhaço será sempre um bobo que ama esse mundo. Por esta veia amorosa, ele aponta os desequilíbrios. Mas ele faz isso apontando nele, ou seja, inversamente. Ele mostra o ridículo da situação sem nenhum heroísmo, para que aquela situação se esfacele nele. (drª. Emily e dr. Zinho)


Assim, enquanto no Palácio da Cidade toma posse hoje o que parece mais uma democracia de piratas, proponho uma conspiração para que fundemos nós a república dos palhaços, lançando desde já o dr. Zinho à presidência.


Que 2009 seja revolucionário!

Beijo,

Guilhermina