segunda-feira, 22 de junho de 2009

o que não é o que não pode ser que não é - por Visconde de Albuquerque

Nine, querida,

Quão reconfortante é tornar a ler teus sempre atenciosos comentários para minhas turvas idéias! Sempre grande o teu carinho. O embaroçoso é que perguntavas sobre os BRICs. De antemão, mister se faz avisar-te que tua alma sensível não merece receber o que há por vir. Mas não tenho como deixar de atender à solicitação de uma dama, mormente se essa dama és tu. Brasileira, rogo-te: vá até a janela, respira fundo, pega água fresca com folhas de hortelã. Enfim, prepara-te. Ou, se já te basta, ficas por aqui, direito inalienável teu, previsto na Constituição.

Em razão da cúpula reunida em Ecaterimburgo, seria oportuno debruçarmo-nos sobre essa candente questão. Mas, de pronto, meu único ímpeto caminha no sentido do pensamento reducionista de que os RICs vão muito bem, obrigado. O problema, caspite! é o B. Acabo de conversar, coincidentemente, com uma importante liderança do setor têxtil, como se sabe, de alta relevância na pauta das exportações nacionais pelo expressivo valor agregado de sua cadeia. Contou-me o empresário que nossas indústrias enfrentam outras lá fora beneficiadas por toda a sorte de incentivos fiscais, e isso inclui os queridos RICs, sobretudo C. E que aqui o governo não atenta para a importância desse setor, que representa um dos maiores empregadores de mão de obra do Brasil, abaixo apenas da área de Alimentos e Bebidas, no sentido de fortalecer a competitividade tupiniquim. Segundo ele, estamos abrindo mão desses postos de trabalho para os países asiáticos em troca de commodities. É aí que deixamos de falar de decisões estritamente ligadas à esfera econômica para dar lugar à vontade política.

Fui um eleitor de Lula de primeira hora. Ainda assim, no governo Fernando Henrique, agastava-me perceber a dificuldade de gerir o país com o principal partido de oposição ceifando-lhe as iniciativas - do que são provas as ameaças de instalar CPIs por tudo e por nada -, ao mesmo tempo em que condenava febrilmente as alianças, necessárias à qualquer administração, costuradas na chamada direita. Idiota que sou, qual o Eremildo de Gaspari, achava eu que, após tantas lutas para vencer um inimigo comum, Fernando e Luís deveriam era estar lado a lado na condução de um país melhor. Uma vez, estive no gabinete de FHC e ele, em audiência com uma delegação da Fifa, mandou: "Vocês querem que eu fale em inglês ou francês"? Não é nada, não é nada...não é nada. Mas, diante do absoluto (e absurdo) desinteresse de, digamos, certos brasileiros em falar corretamente a própria língua, convenhamos, é um feito e tanto para um aspirante a estadista. Que não quer menas coisa. Imaginava eu o quanto Fernando Henrique - a quem nunca confiei um voto -, um democrata, louco para estabelecer diálogos políticos de alto nível, devia ser avesso àquela roda toda de negociações de acordos debaixo do pano com gente que... Posso estar enganado.

Minha desilusão com Luís começou com aquela história da deportação do jornalista americano que ousou escrever que o presidente bebia além da conta. Ali, senti, de imediato, um cheiro de democracia queimada. Para quem se julga injuriado, há a via de abertura de processo na justiça comum por calúnia. Simples assim. Mas "nosso guia" (de novo, Gaspari) chegou a um extremo tal que, não combatido a contento pela própria imprensa brasileira - como, de resto, passou incólume por todo o escândalo do mensalão - , fez o que fez.

Pulando (muitas) outras etapas, veio recentemente o famigerado blog da Petrobras, Que nada mais é, sob o pretexto de "democratizar" o acesso às informações da companhia, do que a usurpação do direito intelectual dos profissionais. Imagine que, dentro do jornalismo, já há os chamados setoristas, que cobrem áreas específicas (Cultura, Esporte, Política etc.). Dentro da própria editoria de Economia, existem segmentações para tratar de energia, logística, mercado financeiro and so on. Em miúdos, gente ultraespecializada em seus haveres. Que conhece e analisa em profundidade a área em que atua, em função de suas relações de credibilidade com as diversas fontes de apuração. Portanto, evidentemente, quanto mais credenciado o jornalista, tanto melhor serão suas pautas, mais acuradas suas perguntas. À medida que todo esse conhecimento e esforço pessoal - pertencente a ele, em particular, e ao veículo em que trabalha - é jogado via internet para ser aproveitado comercialmente - e a custo zero - por quem quer que seja, é o fim da qualificação individual. Para que, afinal, vou dar-me ao trabalho de estudar, pesquisar, enfim, compreender com apuro às questões relacionadas a petróleo e cia., se isso tudo me é dado de barato por intermédio de um prosaico clique? Deixe que digam, que pensem, que falem. E que, principalmente, trabalhem por mim.

Não bastasse isso, agora surge a inacreditável oferta de Lula de uma coluna semanal para a imprensa como um todo no Brasil. O presidente se dispõe a responder perguntas formuladas por todo e qualquer órgão. Desde que esta coluna seja publicada em um determinado dia (às terças feiras), dentro de formato específico - se me recordo, 3 perguntas por vez - e, claro, reservando-se o governo a escolher quais serão elas. Se, de fato, o presidente tem tanto interesse em apresentar e esclarecer dúvidas via imprensa sobre suas ações, porque não convocar amiúde entrevistas coletivas no Palácio? Que me lembre, elas não passaram de duas ou três ao longo desses dois mandatos. O mais triste é que não vi - salvo engano - nenhuma reação na imprensa a essa tentativa escandalosa de interferir na agenda jornalística do País. O mundo gira, a lusitana roda e...tome polca! Sem contar que José Sarney não é uma pessoa comum, quem desmatou não é bandido e...

Nine, querida, só peço que teu instinto de autopreservação tenha falado mais alto e te impedido de chegar até aqui. Se, por acaso, cometeste o tresloucado ato, perdoa-me por te magoares com tantas observações insensíveis. Da próxima vez em que te deparares com minhas choramingolas, segue rumos mais certeiros. Toma uma banho quente e relaxante, põe um CD de Piazzolla, telefona a um amigo, prepara teu risoto. E aceita este pôr do sol como escusas por tanta chateação. Eu, por meu turno, gelarei os chandons rosés que acabo de ganhar. E a alegria não tardará.

Um beijo.

Obs - Imperdível: 7 de julho, às 20h, Teatro Villa-Lobos - Orquestra de Solistas do Rio de Janeiro, Guinga e Leila Pinheiro



domingo, 21 de junho de 2009

casa em ruínas - por Nine

Ser carioca, ser oca, ser casa branca. Mesmo com a casa ainda em ruínas, mas começando a reconstrução, descubro os alicerces fortes dela, boa fundação! Perambulando pelas ruínas da casa encontro cacos de amor, carinho, princípios, ética e moral que se espatifaram no chão. Às vezes, no meio do entulho acho objetos inteiros, lindos e que pego no chão, limpo, dou polimento e os levanto. Ficam meio incongruentes no meio das ruínas, mas os deixo lá para que me lembrem como era a casa antes e a possibilidade de reconstruí-la um dia. Deambulo pelo que era o quarto, antes lugar de paz, amor, volúpia, carinhos, agora solidão e choro. Às vezes, tem suas travessuras, ainda que raras... Ali tinha uma cama amiga e reconfortante que me abraçava todas as noites, agora... Uma cômoda pequena pintada de azul lavado como certos céus de verão ficava sempre a nos encarar desavergonhadamente, nós também, exibicionistas, nem a víamos mais! Um puff cúmplice de malabarismos amorosos, que agora estático, passivamente reflete sobre o que aconteceu. Quadros de reproduções de Rodin, beijos, corpos desnudos, a "Maia desnuda" que nos olhava de soslaio, todos participantes desses nossos festins semanais... agora eles evitam me olhar, é para me poupar. São como os samurais que viravam as costas, para não verem a vergonha do adversário caído. Mesmo quando por um acaso, alguém ocupa o retângulo, é só para passar, uma chuva, não é para ficar. Eles sabem que o alguém não cria laços, nem amarras, vai sempre seguindo seu destino naval, de porto em porto. Ser mulher de cais, sempre a espera, nunca saber se volta, nem quando...

O escritório agora tão solitário escutou, solícito, as conversas sobre o futuro que não veio, sobre a velhice que prometia ser gordinha, mas feliz, e que escapou. Envergonhado, tem o chão raso d'água com tanta desfaçatez, com promessas não cumpridas, com as mentiras contadas, com as ilusões criadas.

Ah e a cozinha? Palco iluminado, regado a vinhos e abraços, temperos exóticos e experimentos alquímicos. Flamel teria orgulho de nós, de mim principalmente... Num mundo de platibandas, quero crer que essa minha vida continua, que a casa está inteira, não em ruínas. Ou que os que me querem bem me ajudarão a reconstruí-la rápido. Estou sem teto, sem abrigo, na chuva, no frio.

O pequeno jardim desfolhou, despetalou, mas ainda não morreu... tampouco floresce! O inverno chegou para piorar o quadro. Penso na lareira acesa, nos cobertores, nos amores no chão. Nada disso existe mais, acabou, morreu! Como na música... no pé que brotou Maria, nem margarida nasceu. Bem-te-vis não enxergam mais, cegos; beija-flores sumiram. Ontem, dia 20, foi meu aniversário. Acordei as 4h10 da manhã chorando, pensando como eram, antes, esses dias. Acordava com beijos, abraços e presentes, flores... não sei colocar nada no passado e sobre tudo no futuro, queria aprender...

Se alguém souber me ensine, por favor, faço curso intensivo, estudarei horas consecutivas, serei aluna aplicada! Tudo para acelerar a reconstrução!

beijos
Nine de Azevedo

quarta-feira, 17 de junho de 2009

recortes um

Recebi, na semana que passou, um e-mail que era só provocação. Provocação das melhores, daquelas que te remexe na cadeira. Mais republicano do que qualquer outro, esse amigo e remetente, chamava-me (só pode ser ironia) de rainha e convidava-me ao desjejum. Entre xícaras de café, torradas e geleias, ia me lançando ao colo recortes da entrevista com Fernando Eiras, realizada por Luciana Pessanha, e do artigo de Elisa Lucinda; ambos publicados na Revista (07.06.2009) que acompanha o jornal O globo aos domingos.

Assim é o ofício dos iluminadores: lançam luzes que redimensionam a cena. Assim é a função dos fotógrafos: descobrem o ângulo que captura o instante para sempre. Iluminador e fotógrafo, meu amigo me retirou do silêncio ao me fazer ouvir, pela voz de Eiras, que a pessoa que não fala sozinha não é normal.


Eu tenho medo de mim quando as palavras se afastam, e dos que se calam dentro, não se ouvem nem que berrem ou gritem e a desistência toma o lugar da provocação. Eu tenho medo dos que não brigam consigo mesmo, nem se perguntam e agora? ou e daí?. Tenho pavor dos que não sofrem de angústia, barulho ensurdecedor, dissonante, que procura por palavras e não acha.


Mas há outras coisas que calam, meu amigo. A impotência e a descrença podem fazer calar. E nada pode ser pior que reduzir a fala a um falatório. Palavra é ato, não ruído. É provocação ou diálogo. Falar sozinho não é o mesmo, portanto, que dizer o nada ou para o nada. É preciso resposta, reação, efeito – para que se mantenha o crédito no discurso.


Sim, palavra é processo e como tal demanda seu efeito.


Falar sozinho é tornar ato a palavra que lhe percorre, seja ela uma carícia ou um tapa na cara. É, a partir dos ouvidos, permitir que a fala descubra os atalhos até que lhe encha os pulmões, revigore o ar, oxigene os sentidos. Longe de en-si-mesmar, falar sozinho é promover-se diferente daquele que você era no instante anterior à palavra dita. E não ser mais o mesmo. Do mesmo modo, falar ao outro é, ao contrário de um despejar-lhe palavras como quem se alivia delas; fazer o dito atravessar o tempo-espaço até a inauguração da ponte de mão-dupla, por onde bocas e ouvidos deixem de ser apenas orifícios de escoamento da vida, suplicantes de significados.


Mas, essa história de ilhas (o que cada um de nós é) e pontes (o sentido da existência) já é assunto para outro recorte. E, posto que aqui a palavra se suspende, carente de resposta e urgente de continuação, ou de fim e recomeço, deixo o único vocábulo que me ocorre, como um beijo: até.


Guilhermina

segunda-feira, 15 de junho de 2009

onde estiveste de noite? - por Visconde de Albuquerque

Rainha querida,

Aqui me tens de regresso e, suplicante, te peço a minha nova inscrição. Ardem-me as saudades pela ausência - indesejada - de comparecimento a essa esquina. Assoberbam-me de tal maneira as obrigações profissionais que, ao final do dia/noite, escasseia-me a disponibilidade para elucubrações mais sutis. É um tal de contingenciamento de recursos para o fundo setorial de petróleo pra cá, discussão da política de concessão de vistos de turismo pra lá, queda inédita da Selic à casa de um dígito e até os ares mais amenos da cobertura do Fashion Rio, que andava mesmo afastado não só daqui, mas do mundo imprescindível do refinamento pessoal: livros que elevam o pensamento àquele indispensável patamar da abstração.

Nada, rigorosamente nada, a reclamar. Sou mesmo daqueles que necessitam estar constantemente movido a trabalho intenso para alcançar o seu melhor momento. Longe, bem longe de ser um workaholic - coisa de quem não ama a namorada, ou o marido, ou o filho, ou os amigos ou, antes de tudo, a si mesmo, portanto um rico pobre coitado -, encontro na realização das minhas atividades profissionais o fermento essencial para o desenho de uma personalidade ainda em construção que respira grande fragilidade.

O ambiente da Economia, em princípio árido, complexo e, porque não dizer, maçante para muitos, descortina, para meu próprio espanto, um universo apaixonante: o de tentar entender, através do esquadrinhamento da engrenagem política, o Brasil profundo. E é disso que tratam as duas últimas obras que havia lido, no final de semana retrasado: "Atlas da Exclusão Social - Os ricos no Brasil" e "Proprietários - Concentração e Continuidade", esplêndidos por sinal. É, por supuesto, levantamento denso para se entender o processo de acumulação da riqueza no Brasil. E que explica a indecorosa desigualdade na distribuição de renda do país. Mas, ainda assim, textos pertencentes à esfera da leitura por dever de ofício. Não só os últimos tempos têm sido de labor intenso, como encontrava-me há 12 dias em ritmo de produção ininterrupta. Ferviam-me, pois, os miolos, que moles já são.

De modo que, após tomar o café da manhã no sábado último, quedei-me abruptamente surpreso ao constatar que teria um dia inteiro pela frente a ser preenchido com...com o que bem entendesse! Liberdade das liberdades, o melhor dos mundos! Voltei para a cama com o jornal e, automaticamente, vinham-me as mais variadas opções: almoçar um peixe em Guaratiba? ver a exposição de fotos de Luiz Carlos Barreto? aproveitar o solzinho tímido lendo um dos tantos livros que esperam a vez de ser manuseados? O corpo expressou desejo manifesto de permanecer onde estava, e na cama mesmo prossegui, retomando as memórias de Nélida Piñon, que havia deixado pelo caminho pelos motivos já relatados. Como num passe de mágica, o excesso de números, medidas e teorias político-econômicas iam cedendo lugar ao universo impregnado de viagens sensoriais de Nélida. Transporte imediato, mergulho na personalidade de uma grande escritora do mundo. Esse o poder da literatura. Sou um aficionado por biografias. Mas, ao contrário do que sói acontecer, desta feita não logrei ler o livro - como se diz - de uma tacada só. Nem cheguei a sua meia parte. Encontro-me na página 120, um bom caminho percorrido entre o total de 347. Ignoro se vocês já leram. Mas já se me interpõem questões que... Francamente, não sei quando me abandonará tanta ansiedade. Voltarei a esse assunto com vocês, quando concluir a leitura.

Com a calibragem mental mais leve, uma caminhada na praia, no entardecer frio e violeta de outono, revigorou-me a paisagem íntima. Mais tarde, rumo à cozinha, no melhor estilo confort food: picadinho de filé mignon e batata assada com alecrim, escoltado por um cabernet. E muito bem acompanhado. No domingo, o roteiro se repetiu, substituindo-se o repasto por uma massinha calabresa al pomodoro. Fecho de ouro: brownie com sorvete de creme e chocolate. O mundo é bão, Sebastião. O mundo é bacana, Sebastiana. Que delícia a possibilidade desse tempo para aproveitá-lo fazendo o que amo. O que inclui voltar aqui. Saudades a rodo tuas. E das meninas que, como eu, sorvem uns licores existenciais contigo nesta esquina.

O que posso querer mais? Vê-la, rainha. Só isso. Ah, sim...e mais e melhores quedas da Selic.

PS 1: Duda, meu bem, te amo.

PS 2: O título escolhido para este texto - Onde estiveste de noite - nada tem a ver com coisa alguma. A não me ocorrer uma síntese adequada a essa verborragia toda, evoquei este que acho o título de livro mais lindo do mundo. De Clarice Lispector, ça va sans dire.
Visconde

domingo, 7 de junho de 2009

a conta, por favor

No meio da conversa, o primeiro dizia que havia prescindido da perfeição. E engatava num discurso sobre a sua descoberta de um novo parâmetro – o suficientemente bom – com ares de libertário, como quem houvesse recém adquirido uma sabedoria. ...A perfeição além de ser uma neurose, é uma chatice. Uma busca em vão, um desperdício. Se há perfeição, ela é divina, e isso, supondo a existência do divino! A perfeição como meta, como parâmetro é sempre uma frustração, o que acaba fazendo qualquer um se tornar uma cara insatisfeito. E todo insatisfeito é um rabugento. Caí fora. Cansei de correr atrás do impossível. Agora eu quero outra coisa: aproveitar as oportunidades. Quero o prazer de encontrar um bom resultado, mesmo que parcial, ao final de qualquer investimento. E satisfazer-me com esse resultado. Comemorá-lo! Isso é que é saber viver...


O outro olhava o seu interlocutor com espanto. Incrédulo, buscava, nas entrelinhas do discurso do amigo de longa data, os traços daquilo que partilharam por tantos anos. Titubeava uma resposta. Suficiente sempre fora, para ambos, análogo à medíocre – na média – com toda aquela conotação de ausência de excelência, de destaque, de brilho ou diferencial. Aquilo tudo que eles tinham se prometido, anos atrás, jamais escolherem por isso. Desde o boletim escolar, ainda no primário (atualmente, 1º ciclo do ensino fundamental... Como complicaram as coisas...), eles tinham horror daquele “S” – de suficiente – como conceito. Aquilo maculava seus esforços. Era o famoso “passar raspando, por um triz”, com o alcance do mínimo do que fora estabelecido como meta.


Começou a falar invadido por estranha emoção.


Mas... a gente queria... a gente sempre quis tanto mais... A perfeição? Sim! A perfeição como construto, como parâmetro, como aquilo que seria sempre o norte. Uma indicação do que faltava em tudo, em qualquer coisa. Era uma premissa, um pacto, um saber que se articulava com o que desejávamos ser. Porque isso existia e sabíamos disso, o sucesso era sempre uma etapa, uma parcialidade que a comemoração não embebedaria nossos egos, assim como o fracasso era uma lição e não uma derrota, tão definitiva quanto implacável. Sim, a perfeição não era algo tangível. Era sua busca que a fazia importante. Essa persistência era o diferencial. Uma escolha por nossa humanidade...


No meio do discurso se deu conta de que as palavras eram quase uma súplica. No mínimo um lamento. E estancou.


O amigo tinha um semi-sorriso no canto da boca. Ironia? Disfarce? Indecifrável.


Você continua um idealista. Um sonhador. Foi o que disse.


Você é um traidor. Um protótipo de velhaco. Foi o que ele quis dizer. Mas calou e pediu a conta.

***
beijo,
Guilhermina

segunda-feira, 1 de junho de 2009

a viagem - por João Lira

Terça, 13/5, 6 horas da manhã, acordei como de costume, porém nesse dia não fui à escola, fui para o Rio de Janeiro, a Cidade Maravilhosa.


Já no Rio, fiquei alguns dias na casa de minha tia, lá fiz várias coisas, como ir à lagoa, passear nos shoppings com uma das minhas primas, andar de ônibus, coisa que só faço no Rio, limpei o aquário da minha tartaruga, o que para mim não é só uma faxina, é um momento único contando que ela já não está mais comigo.


Nessa viagem mudei minha rotina carioca, já que dessa vez não fui nas férias ou feriadões, era uma semana de trabalho normal e por causa disso passei a conhecer uma parte da verdadeira rotina desse grupo da minha família. Era realmente diferente do que eu imaginava. Era trabalho mesmo, contas, banco, preocupações, mas sempre sobrava um tempinho para mim.


Na minha última estadia na cidade, fui à lagoa com uma grande amiga, conversamos MUITO, demos uma volta de triciclo, paramos em um restaurante, vimos um helicóptero um tanto bizarro, da Polícia Civil, ele rodava em cima da água, parado, só rodando, talvez estivesse em busca de um ladrão submarino usando um snorkel.


Essa viagem foi um presente, mas minha mãe “entrou de penetra” e foi junto, a principio por motivo de trabalho, mas ela acabou prolongando o prazo de sua estadia. Bom, ao menos ganhei um dia a mais. Lá com meus tios, primas e amigos da família, joguei baralho todo dia até 2 e meia, 3 horas da manhã, o que adoro fazer. Foi legal, aprendi novos jogos que não se resumiam somente a cartas.


Tenho agora 14 anos. (12 de maio)

Beijo,

João Lira