quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

um ano de outono

2009 ainda vai bambo das pernas e já está aí Obama empossado entre referências à Roosevelt, Lincoln e Kennedy; o horror de Gaza em trégua de algozes e algozes, mas ainda longe da solução; a crise mundial doendo no corpo e na alma do crédito e da esperança.


Por aqui, nesta cidade escaldante, o Paes segue às voltas com seu choque de ordem no reinado da contra-ordem, metade abandono a outra metade de-formação; as favelas crescem na progressão do risco das encostas; a milícia extermina um por dia para não nos deixar esquecer que a vida vale quase nada...


E eu confabulando com os botões; olhando pra dentro, espiando pra fora. Anteontem mesmo, sentei com Ataulfo e Dona Flores em outra esquina, esta real, e conversa que vai, papo que volta, paramos na constatação de que estamos em pleno ano de outono. Um ano de desfolhamento, de aragem, de obediência ao que tem que morrer para renascer, sabendo que nada re-nasce o mesmo, até porque isso seria mera repetição.


Repetimos o que não aprendemos, o que não entendemos e que, por isso mesmo, clamamos por outra chance, por outra tentativa. Repetimos por vício, por neurose, por preguiça, por empacamento, teimosia e medo.


Renascer é outra coisa. Para isso é preciso morrer. Deixar morrer. Reconhecer um fim, por insucesso ou simplesmente por constatação de uma última etapa de determinado processo, que não pode ser esticada nem adiada. São necessárias muitas mortes até o definitivo apagamento. Um ano de outono é um ano de descarte, de contemplação de folhas pardas deitadas sobre o solo e galhos vazios – esqueletos de uma nova geração. Uma ano que aguarda. Não espera. Ao contrário, vigia a limpeza dos sótãos e dos porões. Um ano de interiores, de tratamento, de entrega à revitalização.


Aqui, nesse trópicos, não conhecemos a hibernação do inverno; o ápice do encolhimento. Nossa natureza ensolarada funciona como um disfarce a esta etapa de todo processo. Isso, no entanto, não quer dizer que ele não exista, mas tão somente que fomos privilegiados pela incidência do sol. Se agradecemos tanta luz, carecemos de um cuidado a mais: óculos com lentes protetoras. Para que não fiquemos cegos.


Beijo,

Guilhermina


4 comentários:

Aderbal Torres disse...

Caso estejamos realmente, num ano-outono, devemos confiar na prima-vera ! Ela é gente boa, sabe ? filha da nossa tia... mais velha que nós, "chorona" que só... mas também é alegre, florida e gosta de avisar que o maioral, aquele com superlativo no nome, está por vir ! assim sendo, que o outono de 2009 seja prenuncio de um 2010 primaveril e que o verão 2011 venha contudo ! :)

Anônimo disse...

É mesmo Guilhe.Todos sentimos que estamos no fim de uma história e de uma forma de viver e pensar.Num hiato,intervalo...outono?Sim.A estação de outono está aí.
Sabemos que a transformação está em curso.Mas, sem coordenadas,eixos ou polaridades que nos sejam familiares para reconhecer o novo,assistimos os eventos que se sucedem perplexos.
Quanto vai durar?No que vai dar?O que fazer?Refletir?Contemplar?Quem sabe agir bem rápido é o melhor?
Ainda bem que além do outono,você também está aí.Eduarda.

Anônimo disse...

Guilhe,de vez em quando perco a minha identidade,por isso o comentário abaixo saiu como anônimo/a.Ou seria o comentário acima?Ou o comentário nem vai sair?
Veremos.

Anônimo disse...

Eduarda, Eduarda;

Dizem que é preciso se perder para começar a se encontrar.
Bj
Guilhermina