domingo, 14 de dezembro de 2008

convite



Aprendi com esses artistas de rua a vencer o medo e a vergonha e seguir dizendo o que eles, mais competentes que eu, conseguem fazer com arte.

Desacato. Adoro essa palavra. Adoro esse lugar. A idéia de avesso à obediência, à veneração, à reverência me é tão instigante quanto a concórdia (essa sim, aceitar com o coração).

Nesses dias em que lembramos o nefasto capítulo da nossa história – 40 anos do AI5 – a mídia tem trazido à tona a participação da sociedade civil nos acontecimentos que envolveram perseguição, tortura, exílio e morte daqueles que lutavam por um ideal menos corrompido e mais democrático, menos hipócrita e mais distribuído entre todos. A cultura do contra vinha com um tapa na cara de uma sociedade herdeira da época vitoriana – moral e bons costumes, tradição e propriedade. Muitos daqueles que ‘tombaram’ era ainda meninos; muitos daqueles ‘companheiros’, que resistiram, hoje são lideranças (e que lideranças!?). Quantos ‘endireitaram’? Quantos enlouqueceram?

Diante dessas reflexões que nos atormentam como uma herança maldita, a pergunta que talvez realmente faça a diferença seja: se não era militar, se não era companheiro na “revolução”, quem era você? O pecado de Pilatos também foi somente lavar as mãos. E não se trata de promovermos uma nova e tardia inquisição, mas de perguntarmo-nos sobre o agora. O mundo e a vida têm nos postos algumas questões semelhantes à época, como se estivéssemos alguns degraus acima, alinhados no mesmo meridiano. A fome, as tragédias ecológicas, a erosão do sistema econômico e financeiro mundial, o populismo das lideranças na América Latina, o armamentismo, o terrorismo, o individualismo puxam a seqüência perigosa de “ismos”, sobre o qual já ponderamos antes.

E nós? Mais duros, mais céticos e mais reativos? Mais defendidos em justificativas de retaliação? De vingança, a vizinha maligna da justiça? Mais protegidos no princípio do ‘salve-se quem puder’? Mais cults, mais cleans, mais estéreis? Indiferentes, seria a melhor palavra? É provável. Sem fazer diferença alguma, que isso é coisa para os sentimentais, uma espécie de idiotas que ainda pensam que causa precede conseqüência e que é a partir de um que se faz a distinção.

Essa é uma esquina para o encontro, a partir da constatação de que somos sós, perambulando pelo mundo. Esse é um convite à sua opinião, à sua reflexão, ao seu protesto, à sua indignação, à sua possibilidade de produzir no ato de contemplar, notar, observar.

A roda está aberta. Esse é um convite para um festival de idéias que possam dialogar, provocar, impulsionar. Deixe seu comentário ou, se preferir, envie seu texto para ataufocomrainha@gmail.com

Até breve,
Guilhermina

Um comentário:

Nelida Capela disse...

Olhar Nômade e Lector in Fabula agradecem o convite. Já estamos todos linkados.

Bjs,

Nélida Capela