domingo, 21 de junho de 2009

casa em ruínas - por Nine

Ser carioca, ser oca, ser casa branca. Mesmo com a casa ainda em ruínas, mas começando a reconstrução, descubro os alicerces fortes dela, boa fundação! Perambulando pelas ruínas da casa encontro cacos de amor, carinho, princípios, ética e moral que se espatifaram no chão. Às vezes, no meio do entulho acho objetos inteiros, lindos e que pego no chão, limpo, dou polimento e os levanto. Ficam meio incongruentes no meio das ruínas, mas os deixo lá para que me lembrem como era a casa antes e a possibilidade de reconstruí-la um dia. Deambulo pelo que era o quarto, antes lugar de paz, amor, volúpia, carinhos, agora solidão e choro. Às vezes, tem suas travessuras, ainda que raras... Ali tinha uma cama amiga e reconfortante que me abraçava todas as noites, agora... Uma cômoda pequena pintada de azul lavado como certos céus de verão ficava sempre a nos encarar desavergonhadamente, nós também, exibicionistas, nem a víamos mais! Um puff cúmplice de malabarismos amorosos, que agora estático, passivamente reflete sobre o que aconteceu. Quadros de reproduções de Rodin, beijos, corpos desnudos, a "Maia desnuda" que nos olhava de soslaio, todos participantes desses nossos festins semanais... agora eles evitam me olhar, é para me poupar. São como os samurais que viravam as costas, para não verem a vergonha do adversário caído. Mesmo quando por um acaso, alguém ocupa o retângulo, é só para passar, uma chuva, não é para ficar. Eles sabem que o alguém não cria laços, nem amarras, vai sempre seguindo seu destino naval, de porto em porto. Ser mulher de cais, sempre a espera, nunca saber se volta, nem quando...

O escritório agora tão solitário escutou, solícito, as conversas sobre o futuro que não veio, sobre a velhice que prometia ser gordinha, mas feliz, e que escapou. Envergonhado, tem o chão raso d'água com tanta desfaçatez, com promessas não cumpridas, com as mentiras contadas, com as ilusões criadas.

Ah e a cozinha? Palco iluminado, regado a vinhos e abraços, temperos exóticos e experimentos alquímicos. Flamel teria orgulho de nós, de mim principalmente... Num mundo de platibandas, quero crer que essa minha vida continua, que a casa está inteira, não em ruínas. Ou que os que me querem bem me ajudarão a reconstruí-la rápido. Estou sem teto, sem abrigo, na chuva, no frio.

O pequeno jardim desfolhou, despetalou, mas ainda não morreu... tampouco floresce! O inverno chegou para piorar o quadro. Penso na lareira acesa, nos cobertores, nos amores no chão. Nada disso existe mais, acabou, morreu! Como na música... no pé que brotou Maria, nem margarida nasceu. Bem-te-vis não enxergam mais, cegos; beija-flores sumiram. Ontem, dia 20, foi meu aniversário. Acordei as 4h10 da manhã chorando, pensando como eram, antes, esses dias. Acordava com beijos, abraços e presentes, flores... não sei colocar nada no passado e sobre tudo no futuro, queria aprender...

Se alguém souber me ensine, por favor, faço curso intensivo, estudarei horas consecutivas, serei aluna aplicada! Tudo para acelerar a reconstrução!

beijos
Nine de Azevedo

4 comentários:

Janaina Amado disse...

Nine, seu texto é lindo. Gosto muito dos seus comentários, inclusive no meu blog, mas não tenho como respondê-los direito, já que vc. não tem blog... Não gostaria de criar uma conta g-mail e com ela inserir seus comentários, para podermos dialogar mais? Fioa a sugestão, e parabéns pelo texto!

Nine de Azevedo disse...

OI janaina obrigado pelo comentario ,tb gosto muito do seu blog!Tenho conta gmail ,é que quase nao uso,hoje ja fui la no seu!bjs

Susanna Lima disse...

Flor, doeu fundo ler esse texto... mas como te digo sempre: sigo contigo! De mãos dadas, de mensagem em mensagem. Não te deixo mais, e sabes correr pra mim é uma opção sempre e para sempre.

Amo-te demais!

Renata Guarani-Kaiowá disse...

Querida Nine!Ficou lindo este texto!
Vai melhorar em algum momento e então será só passado e o futuro bom virá!
bjus