quarta-feira, 4 de março de 2009

a fórceps - por Aderbal

Sempre que escutava alguém dizer que algo tinha sido difícil de sair como um "bebê a fórceps", compreendia a metáfora, mas, sendo homem, nunca imaginaria vivenciar algo desse porte. Ainda não foi dessa vez, porém, passei por algo semelhante... Vivo um momento de separação, rompimento de um casamento de 9 anos e, como forma de elevar um pouco a auto-estima, matriculei-me numa academia de ginástica. Lá, foi-me solicitado um atestado médico para que eu pudesse praticar as atividades físicas desejáveis. Segui a regra e marquei uma consulta com um clínico geral, nunca dantes visto. No consultório, o doutor me encaminhou para fazer um ECG (eletrocardiograma). Milagrosamente, o plano de saúde não exigia burocracia e na própria clínica onde estava, pude fazê-lo. Foi nesse momento que minha percepção de tirada a fórceps começou. Uma moçoila, simpática e jovem, me passou as orientações de praxe: eu devia retirar a camisa e todos os acessórios tais como, celular, relógio, anéis e ALIANÇA, ops!

Pronto! Ao ouvir esta indicação, senti um calafrio! Apesar do fim do casamento estar sacramentado, ainda usava minha aliança! Olhei para o meu anular, olhei para a enfermeira, que nessa hora já estava ligando o equipamento e me aguardando e tive que confessar. Moça, eu não consigo tirar a aliança!

Em plena era do Ipod, Iphone, Itouch, fiquei mesmo no ai, ai, ai. O que é que eu faço? ... Sem alternativa, pedi sabão. Coloquei meu dedo embaixo daqueles recipientes de sabonete líquido e comecei a lutar contra aquela aliança que, aliada à minha junta mais grossa que o dedo, não saia de jeito nenhum. Lembrei tanto da minha infância quando minha mãe alertava que estalar os dedos era perigoso!! Nunca imaginei que daria razão a ela nesse momento. Aliás, um momento que para mim durou uma eternidade, pois eis que foi preciso muito sabão e risos amarelos, uma vez que a enfermeira, com aqueles eletrodos nas mãos, aguardava pacientemente a retirada da famigerada aliança. Lá estava eu, sem camisa, sem relógio, sem celular, mas com aliança entalada.

Como estava numa clínica, acabei pensando em fazer uma "piada médica" sobre o empréstimo de um fórceps na obstetrícia, mas me contive. Após as minhas fortes e suspiradas contrações, retirei a aliança e me submeti ao ECG. Resta saber se no laudo constará um batimento de coração partido. Ao final do exame, fui até a pia e recoloquei a aliança. Não me perguntem por que!

Aderbal

5 comentários:

Anônimo disse...

OI Aderbal!Psicanalise é pau para toda obra, mas Freud realmente explica muitas coisas...Seu coraçao pertido vai consertar querido.O meu tb foi partido e depois de 19 anos!E ja esta se regenerando!Faz muito bem em fazer exercicios .Tb faço, e Aderbal... nao ligue ,como dizem os jovens ,"A FILA ANDA" e anda mesmo!Otima cronica!bjs

Fabiano Barreto disse...

Joinha, joinha!

Janaina Amado disse...

É um texto que prende o fôlego e deixa a gente pensando, pensando... gostei!

Susanna Lima disse...

Tirar a aliança com sabão, recolocar... E é o casamento que se esvai, junto com a água, na pia da sua vida...

Aderbal, o seu texto é muito bom, sabia?

Parabéns pela escrita! Força na nova caminhada...

Beijos!

Maria disse...

Que texto bom!

E, embora não tenha resposta, eu gostaria mesmo de saber pq!

Meu beijo