quarta-feira, 25 de março de 2009

Chega uma hora que chega uma hora: A orquestra já nos chamou – por Visconde de Albuquerque



Girassol Susanna,

Quando li teu comentário sobre Leila Pinheiro, abri meu coração, tremeu o chão, eu vi que era feliz. Por amar tanto a música, ouço cada vez menos música, e isso já vem de anos. Desde sempre escutando música aos borbotões e, mais tarde, tendo feito isso também por questão profissional durante um longo período, chegou uma hora em que, sinceramente, chegou uma hora. Há música em todos os lugares e o tempo todo. É uma tal saturação! Música na loja, na sala de espera do consultório, no elevador, no carro, no hotel, no escritório, na praia, no restaurante, na casa das gentes, como se o mundo corresse o risco de entrar em colapso fatal mediante uma momentânea zeração de decibéis.

Quando alguém me conta, com os olhos brilhando, que agora tem uma engenhoca capaz de armazenar 115 milhões de músicas, não consigo nem disfarçar minha decepção com a (em tese) boa nova.Nas caminhadas por essa estonteante orla, dá-me gastura ver as gentes a passarem sôfregas com um fonezinho embutido na orelha. Não sei vocês, mas este mequetrefe cheio de rabugices anseia por silêncio como um astronauta delira pela lua. Os segundos que antecedem minha subida em um táxi são acompanhados de terríveis expectativas. Outro dia, a própria Leila - sim, a Pinheiro - disse que pede para desligarem o rádio assim que entra em carros alheios. Oh, minha alma encheu-se de júbilo: eu não estava só nesse mundo de sons intermitentes. Bem ao contrário, vi-me na mais fina companhia. Logo uma cantora! E logo ela!

Eu disse Leila? Pois eis um exemplo perfeito de entendimento da música. Afinação, precisão, limpeza. E pausas. Muitas pausas. Que mesmo a música não prescinde de seus silêncios, suas respirações. Um instrumentista como Yamandu, com todo o respeito ao virtuose, deixa-me atordoado ao fim de uma única audição. É uma tal profusão de notas em cada mísera frase musical que me quedo zonzo, fatigado, abatido. Parece querer enfiar todos os acordes do universo em uma única sequência harmônica. O cara sola na pausa. Já o violão de Guinga, o piano de Jobim, o trumpete de Chet Baker, aquela justeza...Nada sobra, tudo eleva. Aí, sim, vem a vontade de parar tudo para que esses sons vibrem em plenitude.

Além de recomendar o blog da querida Pinheiro (em http://www2.uol.com.br/leilapinheiro), onde ela posta dicas culturais bacanas, que evidenciam sua persona sofisticada, deixo-te - e aos demais, ça va sans dire - com 3 sugestões para massagear nossos combalidos tímpanos:

- A própria Leila em Onde Deus possa me ouvir (Vanderlee)
http://app.radio.musica.uol.com.br/radiouol/player/frameset.php?opcao=umamusica&nomeplaylist=008828-6_13<@>Nos_Horizontes_do_Mundo<@>Onde_Deus_Possa_me_Ouvir<@>Leila_Pinheiro_<@>0350<@>Leila_Pinheiro_<@>Biscoito_Fino<@>

- Esse escândalo que é Are you going with me, com o guitarrista Pet Metheny e orquestra em concerto em Lisboa.
http://www.youtube.com/watch?v=avwXET5ippQ&feature=related

Três (Marina Lima e Antonio Cícero), na voz de Adriana Calcanhotto - A parceria entre irmãos em grandíssima forma.
http://app.radio.musica.uol.com.br/radiouol/player/frameset.php?opcao=umamusica&nomeplaylist=010167-9_03<@>Maré<@>Três<@>Adriana_Calcanhotto<@>0350<@>Adriana_Calcanhotto<@>Sony_-_BMG<@>

Abraços enternecidos.
Catavento Albuquerque.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Visconde
Bendita seja a hora que vim parar nessa esquina benfazeja!Tenho encontrado meus iguais,eu que achava que estava sozinha no mundo!Gosto muito da Leila ,e mais ainda por saber agora da estoria de desligar o radio.Nao sei conversar com musica de fundo ,nao sou filme ,nao preciso de trilha sonora.Tb nao gosto dessa invasao sonora e até visual ,é restaurantes com tv ,é laboratorio medico que ficam passando desenhos animados ou programa da Ana maria braga...tem horas que fecho o olhos e me imagino no meio da floresta,pelo menos os sons la sao mais palataveis!Sempre é um prazer o ler bjs

Susanna Lima disse...

Queridíssimo Catavento meu,

Quanta felicidade nessa conversa. Tão lindo o teu carinho comigo... Bendita seja a nossa Rainha, que nos aproximou por aqui.

Mas sim, a Leila é minha paixão de muitos anos. Tantos que transformou-se em meu amor. Sabes que estou ainda pela idade dos vinte e alguns, não? 24, sendo precisa. Conheci Leila quando eu era ainda menina, perto dos 10 anos. Ela me veio pela mão do meu pai; não seria mais significativa se assim não me tivesse sido apresentada.

Confesso-te, querido, não consigo apartar-me dela - a Pinheiro. Aliás, não sei levar o dia sem música. Perdoa-me se te causo frustração... Não sei mesmo... Sigo sempre, e para qualquer lugar ou atividade, com a música agarrada aos ouvidos, presa aos olhos, tatuada na pele. Ah, afeto meu, ouvi tão pouco ainda... Desconfio que minha hora ainda não tenha chegado.

Agora, vá lá! Tendo Leila Pinheiro à carona, ou ao banco de trás, precisa-se de música?? Qualquer outro som, na presença dela, beira a deselegância. Ela é feita de silêncios, dileto Catavento; percebe-se isso ao vê-la, e ainda mais ao ouvi-la [Eu e minhas divagações..rs]. Fosse eu no lugar do motorista, pediria ao mundo que parasse, por um minuto que fosse, para sentir o sossego, a calma, a paz que essa mulher empresta a qualquer um que compartilhe de sua vista.

Amei tuas indicações. Sempre muito agudo e apurado o teu gosto! E generoso, em igual medida, com todos os queridos que caminham por essa Esquina.

Esses teus movimentos, moinho meu, só corroboram para que eu me volte para o sol. Feliz e agradecida pelos Ventos de Paz que me trouxeste, afasto-me, no sufoco, apenas por saber que nos iremos aproximar em breve.

Meu beijo,
Girassol!

Rainha, meus carinhos sempre...

Maria disse...

Vida inteligentes, ouvidos inteligentes...glória!!! Para entender o texto é só recordar de estar pertinho vendo Leila tocar piano, cantar doce... explica tudo!

Beijos em todos desta esquina.

Anônimo disse...

"Ô meninas em flor da pátria minha, que amores não sois vós!" A frase é de Vinicius de Moraes e veste perfeitamente todas vcs!
E já que estou em dia de citações, aproveito o tema em pauta nesta esquina invocando Hermann Hesse:
"Para mim, a noção de pessoa velha ou nova só se aplica às pessoas vulgares. Os seres humanos mais dotados e diferenciados são ora velhos ora novos, do mesmo modo que ora são tristes ora alegres."
Beijos, garotas.
Buca.