quarta-feira, 18 de março de 2009

o outro, nós e a fronteira final - por Nine

Não sabemos nada sobre o outro, ou muito pouco...

Fui levada a esses pensamentos por Rimbaud. O que levou esse jovem poeta a vender armas e a não fazer mais poesias, a querer um filho, que dizia, iria passar a vida a ensinar e a ornamentar... Na Abissínia se tornou também comerciante de café, mas nada de poesia. O que aconteceu dentro dele para abandonar a poesia, quando tinha tão promissor talento?

Ele foi o 10° homem ocidental a penetrar na 7° cidade muçulmana na África. Ficou lá 5 anos, escrevendo à família que a África embranquecia um fio de cabelo dele por minuto, mas não foi embora, morreu lá... Sua irmã pagou dez missas na igreja dos capuchinhos alegando que ele tinha apreço por essa ordem, será? Tão contraditório... Mas somos todos... Um mistério nunca revelado.

Um homem que eu pensava conhecer bem, também foi para a África dele. Sem explicações, partiu! O que se passou com ele para fazer isso? Nunca saberei, talvez nem ele saiba... fugiu da raia e de saia.

Desconheço-me às vezes também. A gente vive em geral de maneira que não queremos. Temos medo de ir além, ao desconhecido, mesmo que o presente esteja ruim. Ficamos paralisados numa moldura de vida que já não nos serve.

Só tenho sido apresentada a homens inconsistentes, medrosos, sem poesia. E a poesia é um vicio que tenho, não consigo viver sem ela. Não sei ter amigos com reservas, nem amores com precauções.

Um amigo querido me disse ontem, que eu acredito em tudo o que me dizem. Que sempre falo: Mas ele disse.... Que devo me comportar emocionalmente como uma prostituta quando faz um "programa": não me importar, não me apegar, ser indiferente! Impossível para mim, Ele disse que eu tenho uma ingenuidade que não funciona mais, só me machuca...

Sempre olho nos olhos das pessoas. Lembro de pessoas que cruzei olhares e troquei frases na beira de estrada há 20 anos. Claro que não me lembro de todas, mas as que me trataram afavelmente, dedicaram-me um certo afeto, um reconhecimento, um espelho, essas carrego comigo.

Tenho me sentido fora do meu habitat. Mas creio que não é espaço físico. São meus semelhantes, minha tribo que não acho. Ou então acho alguns, como seres em extinção, últimos dos moicanos. Estou virando autista por opção, não consigo me comunicar com as pessoas e nem elas comigo. Elas me estranham e eu a elas. Tento, sorrio, converso com elas, mas acabo batendo num muro inexpugnável... Sinto-me cada vez mais isolada no meu mundo. Tudo em que confiava, em que acreditava, desapareceu. O isolamento fica cada vez mais espesso como um quarto acolchoado, para não ferir meu coração que foi partido, às vezes acho que indefinidamente.

O passado me assombra com seus fantasmas, o presente é um deserto onde eu caí do avião da vida, e onde não tem ninguém, faz muito calor durante o dia e muito frio à noite, sem cores... O futuro, onde a esperança mora, esta distante e flou... Preciso achar um oásis logo para não perecer, para não enlouquecer...

beijos afetuosos a você, minha rainha,
Nine de Azevedo.

5 comentários:

guilhermina, (ataulfo) e convidados disse...

Querida,

depois do nada é que há o horizonte.
depois do deserto é que segue a estrada.
depois de depois de ontem já é
a manhã... E vc sabe o que é manhã?
Todo o meu carinho,
Guilhermina

Anônimo disse...

Querida Rainha Gui
Que bom acordar e receber seu carinho!obrigado por tudo ,ja estou com saudades de voce!bjs

Susanna Lima disse...

Minha amada Nine,

Penso que desconhecer-se é um ótimo ponto de partida. Na medida em que nos desconhecemos, nos surpreendemos com a capacidade que há em nós de superar limites - nada há que nos diga 'não, isso você não consegue fazer'. Desconhecer-se é ser livre, ilimitado, vasto, e com muito por descobrir...

Siga ainda olhando nos olhos das pessoas, ainda procurando nelas a poesia que tanto te apraz. Há alguns que disfarçam-se sob inconsistências, e só um olhar atento é capaz de descobrir o que se esconde por trás dessa capa de olhos frios e gris.

Persista em acreditar no que as pessoas te dizem. Eu também acredito. Só não as ponho, pessoas e o que elas me contam, em patamares altos demais - quem sempre cai sou eu, e foram muitos tombos. Sim, eu posso crer numa mentira dita por alguém, mas já cri em tantas. Isso não me perturba muito. Somos todos, e a cada dia mais, estrangeiros. Mas não conferir ao outro uma medida generosa de confiabilidade? Ah não, isso é ser cruel demais. Ainda que ácida, bruta e dura, sou descomunalmente generosa - acho que é isso que me salva, diariamente.

E não, florzinha, você não irá perecer ou enlouquecer. Os teus amigos não deixarão que isso te aconteça. Ainda há amor demais pra você receber de nós...

Meus beijos!
Beijos també, Rainha!

disse...

Parabéns pelo blog ,meninas!Nine?!abra os olhos e viva!Os outros são os outro,mas não são o "inferno" como disse Sartre.
bjus

Anônimo disse...

Os outros são os outros.....