sexta-feira, 13 de março de 2009

Pedir desculpas não resolve mais! – Por Susanna

Semana Farta. Pra minha felicidade! Os textos começaram a chegar ainda no domingo, com o Visconde e suas relíquias... Depois, Nine fez de nós confidentes. E, pasmem!, no mesmo dia recebi da Susanna este relato que vem a seguir. Sinto-me honrada de que tenham correspondido ao meu convite com tanta generosidade. Puxei minha cadeirinha, guardei meus alfarrábios e coloquei-me a escutar. E já vou avisando: há mais um texto do Visconde no prelo. Sai amanhã, em edição extra, ok?

Um beijo,
Guilhermina


Queridos,

Há já algum tempo venho procurando pensar numa temática interessante para trazer aqui à Esquina, mas nada suficientemente bom – de acordo com os meus parâmetros perfeccionistas – me ocorria; nada no campo das contemplações, melhor dizendo, posto que imaginação tenho à cântaros. Entretanto, eis que hoje, dia 11 de março, vi-me envolvida numa situação que beira o absurdo. Tanto que, imbricada à proposta dessa “roda”, cabe perfeitamente como proposição para o meu texto. Convido-os, portanto, para que puxem suas cadeiras, ou almofadas se preferirem, mas fiquem confortáveis: o texto é longo, mas o assunto é interessante!

Nessa quarta-feira tive um encontro com o meu pai. Sim, há cerca de uns 4 ou 5 anos passei a ser “filha-de-pais-separados”, o que encaro numa boa. Lógico que toda a separação é problemática, e sempre ficam, na melhor das hipóteses, algumas cicatrizes. Tenho cá eu as minhas; e a distância do meu pai é uma delas. Pois sim: encontramo-nos hoje! Que alegria! Meu pai é ser humano cheio de problemas. No entanto é leve – e isso nada tem a ver com ser calmo, ou paciente. Somos, nós dois, detentores de pavios muito curtos. Mas meu pai existe como figura pouco carregada de tensões; erra e permite-se aprender; pede perdão; é humilde e consciente de seu potencial; tem muitos defeitos, muitos mesmo, mas muitas qualidades admiráveis. E depois de quase um mês, estivemos juntos novamente.

Tomamos nossa bebida preferida juntos: café. Conversamos sobre nossas vidas, empregos, algumas coisas do mundo, e sobre minha mãe. O tempo era curto – eu em horário de trabalho, agradecida a Deus por ter concedido ao meu chefe níveis suficientes de benevolência para me permitir ausentar do escritório durante 40 minutos; meu pai tinha outros compromissos marcados ainda para aquela manhã – e não dava tempo de ter tempo com ele. Vida que segue. Ele pagou o café e nos dirigimos ao ponto de ônibus mais próximo, a fim de que ele tomasse a condução de volta pra sua casa.

Nesse momento, ainda envolvida e perdida em saudades – que não têm só a feição de hoje, antes carregam a imagem da menina que, aos cinco anos, esperava, com os grandes chinelos dele nas mãos, o pai chegar do trabalho; ou uma de que gosto mais: a da filha amada, que ouvia, com um sorriso nos lábios, o “minha princesinha” dedicado a qualquer motivo que revelasse ter muito mais desse pai, do que só o sangue que lhe corria nas veias –, gesticulei expansivamente, como me é característico, abrindo os braços pra apontar qualquer coisa sobre a qual conversávamos.


O meu mundo parou. Esse mundo fantástico que tinha a ver comigo e com o meu pai, apenas, parou. Sem querer o meu gesto com o braço foi parar no rosto de um senhor, que passava na rua, justo nos meus 40 minutos com o meu pai. O que ele tinha de fazer ali? Invadiu o meu espaço, e ainda trouxe consigo todo o peso da realidade de uma vida sem magia e gentileza. Ofereci, como manda a boa educação, um pedido de desculpas pelo incidente. Mas àquele homem isso não servia.


Depois de conter todos os muitos, suponho eu, impropérios que lhe vieram à boca (deixando escapar um, que ouvimos – eu e meu pai), esse homem pretendeu seguir seu caminho, e sem aceitar o meu pedido de desculpas, o que me ofendeu profundamente. A despeito disso, relevei a atitude dele, pensando que cada um tem o direito de reagir da maneira que lhe couber melhor nesses casos. Mas meu pai, como eu, tomou aquilo por absurdo e não tolerou a atitude do tal senhor, saindo em minha defesa. Nada de mais: apenas fez uma cara feia das boas, e cruzou os braços em reprovação.


Esse homem, ao ver isso, colocou-se agressivamente diante do meu pai, entendendo que ele nada tinha a ver com o que havia acabado de acontecer – acredito que ele não tenha percebido, mas era O Meu Pai que estava ali, não um homem qualquer, como ele. Vivemos momentos de tensão. O homem me acusava de ter-lhe dado uma “bolacha” (!), eu me desculpava mais algumas vezes (o que não surtia efeito nenhum àquela altura), e meu pai cobrava energicamente que aquele aceitasse o meu pedido.


Tentando manter a calma, consegui contornar a confusão chamando a atenção do meu pai para mim, e gesticulando para o homem, de maneira que ele entendesse que precisava seguir, e deixar-nos em paz! Despedi-me do meu pai, e voltei ao trabalho. Fiquei pensando em como as pessoas andam à flor da pele. Tão egoístas, e, nesse sentido, detidas apenas em si próprias e no que lhes tira a paz, que são capazes de oferecer resistência a um pedido de desculpas. Será que ainda há possibilidade de retornarmos ao lado da história onde pedir desculpas resolvia esse tipo de atrito, tão pequeno, ou teremos que ficar com essa face da moeda?


Pois bem, eis aí o relato sobre o dia em que descobri a medida da ineficácia que um pedido de desculpas pode assumir atualmente...



Aos que me acompanharam, meus agradecimentos! Sei que falo demais... Por isso, desculpem (acredito que este pedido ainda sirva a vocês..rs..) minha prolixidade.


Beijos e até a próxima!

Susanna



3 comentários:

Anônimo disse...

Dama Susanna(adorei esse titulo dado pelo Visconde ALbuquerque...)
Sim ,estamos vivendo tempos sombrios e olha que sou a maior das otimistas!Estamos deixando de ver o outro como da mesma espécie ,so vemos o outro como inimigo .Agressividade anda a solta,pavios curtos e seres belicosos se espalham como praga pelas cidades,é um levar vantagem ,passar a perna no outro...mas ai as vezes surgem os tais bolsoes de gentileza ...se apegue a eles!bjs

Anônimo disse...

Amada rainha Guilhermina
Essa esquina que é do desacato, mas também da gentileza , esta animada como eu gosto.Adoro seus abraços virtuais ,melhor mesmo so os reais.Aguardarei impaciente o novo texto do Carissimo Visconde!bjs
PS. somos todas damas da rainha Guilhermina.

Fabiano Barreto disse...

Su,

Não me espanta que fatos como esse ocorram em pleno terceiro milênio. Afinal, vivemos uma individualidade quase hobbesiana.

Mas, que é lamentável é, e espero que continue sendo. Quando fica banal é que "são elas"!

Beijo!