sexta-feira, 20 de março de 2009

porque non te (maria) callas? - por Visconde de Albuquerque



Minha preciosa abelha rainha,

Quanto tempo tenho pra matar essa saudade? Sei que te arrependes, com todas as tuas forças, das vezes em que me reconvocaste para tua esquina. De certo, te esqueceras que sou ser sem meio termo ou comedimento. Ou sumo na poeira ou me torno onipresente. Ora passo a baldes de folhas verdes e sucos de todas as frutas que há na T(t)erra, ora entrego-me a uma infinidade de travessas de massas, sobremesas esculturais e copos de vinho possíveis de assimilação. Ora exercito-me de fazer corar a Fernanda Keller, ora quedo-me prostrado diante da TV na minha patagônia. Ou emudeço, apenas a contemplar teus pensamentos, ou desando a falar mais que a Preta Gil em teus domínios. Enfim, coube-me a presidência de honra do MSM-Movimento dos Sem Medida.

É que sou um homem feliz, por empolgar-me sem rédeas em variadas instâncias. Além da luz de ter-te como afeto, eventos azuis me perfumam os dias. Contou-me o prefeito carioca em entrevista, por e-mail: "Talvez a face menos visível, mas mais danosa do que o Rio viveu, seja o abandono dos nossos ideais, das nossas vocações. Deixamos de ter uma postura de atração de investidores, de desenvolvimento, de geração de empregos, de vanguarda. Precisamos voltar a ser ousados, empreendedores, criativos". Não votei em Duda. Fui um desses verdes que deixou de viajar para a ilha de Caras no fim de semana da eleição no intuito de entronizar o companheiro Fernando no palácio da São Clemente. Mas li com alegria que Paes vai estender o horário de estudo de mais de 100 mil alunos de 150 escolas da rede municipal de ensino das quatro horas e quarenta minutos atuais para sete horas de aulas e atividades culturais e esportivas.

Que ressoem os tambores! Sou um tolo emotivo, bem sei. Por qualquer migalha na esfera educativa e social, ponho-me sem o menor pudor e senso crítico a aplaudir alcaides, xerifes, príncipes e outros fidalgos. Mas - fazer o que? - é a política -, malgré elle-même. Além disso, o ex-ministro Pratini de Moraes garantiu-me ontem também em entrevista, esta por telefone, que, para enfrentar a onda protecionista imposta às exportações brasileiras devido à recessão internacional, o país deve responder na mesma moeda, estabelecendo restrições aos produtos de países que bloqueiam nossas vendas. "Se não quer comprar meu tecido ou meu aço, não compro teu vinho ou teu avião", sintetizou ele, num ajuste quase poético à lei de talião. Ah, quer saber? Gostei dele. No lugar daquele blábláblá extenuante de déficit da balança comercial, pão pão, queijo, queijo. Só faltou dizer: Pau na canalha, Brasília! Simplinho assim. Ah, não me culpe por insistir em ver poesia até onde poesia não há. É meu viver, amada.

Ainda um outro motivo de júbilo. Este teu amigo já havia citado em postagem aqui um trecho de Saga lusa, de Adriana Calcanhotto, em que ela chama atenção para a beleza que é o Dia de Portugal ser uma homenagem a um poeta - Camões. Pois bem. A praça do Comércio, caminho para o restaurante Martinho da Arcada, pouso de Fernando Pessoa, está toda fechada com tapumes, devido à obra de recuperação do rio Tejo. Em alguns deles, tapumes - em vez da grafitaria que emporcalha as fachadas de pindorama -, salta aos olhos um poema de Pessoa, ou melhor, Alberto Caeiro: "O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia / Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia / Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia / O Tejo tem grandes navios / E navega nele ainda / Para aqueles que veem em tudo o que lá não está / A memória das naus / (...)". Mais uma linda lição dos velhos e bons tugas.

E, como urge apaziguar a sede e a fome galopantes dos sentidos, permita-me deixar uns agradinhos que este catador de bálsamos andou a recolher para regalar-nos a alma (no que intento, secretamente, também marcar uns pontinhos com Susanna, que parece apreciar umas recomendaçõezinhas...):

1. A inacreditavelmente bela canção Ventos de Paz, de e com Leila Pinheiro. Sobre esta preciosidade, num almoço em casa para Vera, irmã de Leila, perguntei-lhe de chofre: Tua irmã agora virou santa? "Santa?", espantou-se ela. Sim, expliquei-lhe, pois que isto não é uma música. É uma prece. Ouçam:
http://www.mp3tube.net/musics/Leila-Pinheiro-Ventos-de-Paz/128187/
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2. O DVD Sinal dos Tempos, de Antonio Villeroy - Gravado ao vivo com a Orquestra de Câmara do Teatro São Pedro, de Porto Alegre, é lindo, lindo, lindo. A começar pela música título: É preciso acordar / É preciso mergulhar mais que mil pés / Onde Netuno traça o rumo das marés / É preciso acertar a direção dos pés / Quando os velhos caminhos se esgotam / E os tempos não voltam.
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3. O filme Milk - A voz da igualdade
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4. O CD João Pinheiro canta Sade (http://www.myspace.com/joopinheiro) - Voz linda de travesseiro e arranjos inspiradíssimos com pandeiro, cuíca, cavaquinho e tudo para as músicas da elegantérrima dama nigeriana.
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5. O livro As tais Frenéticas, da queridíssima Sandra Pêra. Inteligente, talentosa, engraçada, Peralta é dessas figuras que iluminam o ambiente em que pisam.
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Perdoa as delongas deste nobre vagabundo. Devo alimentar a esperança de nos vermos, oráculo meu?
Abraços de muita saudade. Beijos em todos na tua casa.
Albuquerque
PS: Gostaste da foto?

8 comentários:

Anônimo disse...

Caro Visconde de Albuquerque
Traz nos alvissaras das mais formidaveis!Sobre a cidade maravilhosa que eu amo ,como todo exilado que se preza,sobre a liçao de Portugal com poesias nos tapumes etc...sou apaixonada pela cidade das 7 colinas:pelos seus bondes ,pela rua Augusta de la, pelo Chiado,pela livraria em frente "A Brasileira" etc...O filme com certeza vou ver ,ja estava nos planos de fim de semana.Enfim ,agradeço muito todas as indicaçoes e descanso a vossa senhoria e a sua Viscondessa Vivi.abs

Susanna Lima disse...

Visconde, te dei todos os pontos, e não só alguns, como você havia pensado!

Estas tuas indicações são ótimas, mas me deixei vencer - e com o meu melhor sorriso estampado no rosto - por conta da Leila. Sou apaixonada por ela. Ouço sempre! Comentarei sobre os "Ventos de Paz", me aguarde...

Fiquei sem palavras para me referir ao restante do teu post. Falando em Leila, mexeste com os meus horizontes...

Meus beijos, querido!
Guilhermina, minha, meus carinhos!

Anônimo disse...

Mas por onde estava eu passando p/ n/ chegar aos meus ouvidos coisas tão interrogativas?
Vou sentar-me e ouvir (ler) tudo q/ esta esquina registrou p/ sua magestade.
Sra. Rainha, perdoa-me, mas tenho habitos (o tempo sempre se esforça p/ cristaliza-los e eu no meu lado do campo jogo contra, haja força!)
tipo caminhar mais pelos interiores
seguido pelo Dias Ferreira e o Arisrides, mas vou mudar. Me aguarde!
Bjs

PIN

Janaina Amado disse...

Visconde, virei fã absoluta de seus textos. Deliciosos, inteligentes, engraçados.

Anônimo disse...

1. Cara Nine, quanta delicadeza em preocupar-se conosco! Também espero que descanse na companhia de dádivas artísticas.

2. Prezada Susanna, te beijo com meus olhos.

3. Amada Janaína Amado, só me resta torcer para que Guilhermina não te ouça. Se a seco já sou esse incorrigível boquirroto, que dirá movido aos licores inebriantes de teus elogios. Estou vendo a hora em que a Rainha chama a Fink, joga mesas e cadeiras no caminhão, e muda-se para outra esquina sem deixar-me bilhete ou CEP. Queres arcar com tamanha culpa? E que o cachorro não me caia da mudança!

guilhermina, (ataulfo) e convidados disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
guilhermina, (ataulfo) e convidados disse...

Qual o que, meu caríssimo Visconde! Esta monarquia para que seja nossa há de cumprir duas condições: ser governada por uma mulher e PARLA-mentarista!!!! Ao dirigir-se assim à nossa Janaína, desenha-me uma rainha de copas a mandar cortar cabeças por aí. O que é isso?! E se alguém vos der crédito?! Fink-se bem por aqui e mantenha o decoro nesta província.
Um grande beijo em todas as damas desta corte, meus respeitos aos varões,
Guilhermina

Unknown disse...

guilhe,reconheces o sopro da vida incrível nesta esquina ?