Tomei um susto quando recebi, em resposta ao meu convite para a abertura da roda nessa esquina, o texto “tortura ou alívio?” — do João Lira. Dois motivos encontro pra isso: primeiro porque não podia supor que meninos de 13 anos pudessem se interessar por esses tormentos que nos assolam nestas bandas e depois, mais difícil ainda, era supor que ele depositaria aqui a sua “vontade de chorar mastigada”, junto com a de seu pai. Mas me enganei e ele está aí. Obrigada, João. Um beijo cheio de carinho pra você.
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Aos vinte e poucos anos, magoada por uma amiga muito querida, eu a magoei de volta, com toda a intensidade que consegui na época. Tentamos algumas vezes refazer os caminhos que levavam ao abraço, mas um blindex de ressentimento surgia sempre que, próximas, erguíamos os braços. Recentemente, num momento muito difícil, ouvindo um pedido de socorro meu, ela estraçalhou o vidro e diante da minha surpresa e confusão com seu gesto, ainda me disse: receba minha oferta de um jeito mais leve, pois é uma oportunidade maravilhosa que tenho de reparar outras omissões em relação a você. Assim aprendi que 20 anos de mágoa se dissolvem como o sal quando o afeto e a possibilidade se encontram de novo.
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Durante 10 anos evitei qualquer troca com uma pessoa porque ela frequentava um mundo de políticos e homens ricos. Tinha certeza de que ela não podia ser alguém de quem eu pudesse gostar. Recentemente, num encontro social, ela começou a me falar de suas dores. Algumas tão parecidas com as minhas. Depois veio ao meu encontro, me convidou para uma pizza e um chope. E na semana seguinte, me recebeu em sua casa com carinho, cortesia e delicadeza. Tive que reconhecer que certezas, mesmo as nossas, quando preconceituosas, são medíocres.
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A falta de dinheiro consome tempo e energia (que deveriam ser para investimento num logo depois) na administração do drama cotidiano. Mas um dia, já faz tempo, li que a pior pobreza é a de terno e gravata, aquela que se esconde numa aparência falsa. Hoje escutei de uma pessoa, que acaba de viver uma falência, que pior que a queda financeira é se, a reboque, ela traz a penúria afetiva. “Se ele acha que fui comprada por um bom hotel e uma jóia no pescoço, então a falência veio para revelar a verdade. A minha e a dele. Afinal precisamos saber se ele é um homem ou um comprador e se eu sou uma mulher ou uma mercadoria.”
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Agora me diz: viver não vale a pena?
Beijo,
Guilhermina
6 comentários:
Guilhe,
Viver bem vale muitíssimo a pena.
Mas me diga,por que complicamos tanto?
querida eduarda,
acho que complicamos na exata medida da nossa ignorância, principalmente quando tentamos encobrí-la com a vaidade, o orgulho e a esperteza. E você,o que acha?
Bj
Guilhermina
Guilhe,concordo com você.
Ignorância.É mesmo.
E o pior:para ela não há limites.
Penso em quantos séculos já se foram e quantos mais passarão até que o óbvio sobressaia:continuamos a fazer tudo errado por ignorância.
Haja paciência.
Bj
Nossos tormentos são nossa ignorância. Bom quando cai o pano e conhecemos simples o outro ser humano. Erramos, acertamos, erramos de novo, acertamos...e vamos...seguindo a vida, tantar ser felizes e fazer feliz quem está em volta.Rainha Guilherme: seu blog é uma feliz surpresa a cada dia que passa.
Obrigada, Nélida. É um prazer encontrar vc por aqui.
Bj
Guilhermina
viver é um grande e maravilhoso desafio! ainda mais quando nos permitimos a surpresa em cada passo!
beijos e um lindo final de semana!
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