Espero que essa carta te encontre em ótimo estado de saúde. Que as crianças estejam bem, todas as crianças, a vida
Caríssima, você não encontrou por acaso, ai na esquina, um amor perdido?... Ando tanto a procura dele, faço de tudo para achá-lo, mas nada! Sei que ele é distraído. Ele pode não estar me vendo. Pegou o bonde errado, o carro, o ônibus, o avião...
Vou descrevê-lo para você me ajudar a encontrá-lo mais facilmente: Meu amor é alto, entre 1m71 e 1m91, magro sem ser magricelo, talvez mesmo tenha ganho um certo "embonpoint" dos franceses! Às vezes ele é moreno, às vezes louro, nunca se sabe. Só sei te dizer que ele adora cinema. E ler... para ele não tem coisa melhor, a parte eu claro! Ele é generoso, afável no trato com as pessoas, principalmente subalternos, porteiros, garçons e afins. Gosta de futebol, mas não é fanático a ponto de me largar por isso. Gosta de me escrever de mots d'amour e também os de todo dia. Aprecia muito conversar, e comer e beber moderadamente. Aliás, Guilhermina, são as únicas coisas com as quais ele é moderado... gosta imensamente de beijar, ah... beijos inesquecíveis e abraços de corpo inteiro. De dormir de colherzinha, conchinha, qualquer nome, mas que signifique dormir juntinho. Ele me ama apaixonadamente, e vai colocar flores no meu túmulo para sempre. Chorará desesperadamente a minha morte, e lamentará sua sorte. Todo mundo saberá disso, e se alguma outra mulher adoçar suas noites, não me importarei, te juro Guilhermina, quero que alguém o console de tanta tristeza.
Somos os dois sonhadores, apaixonados, românticos e dedicados um ao outro. Desde o primeiro encontro não podíamos mais tirar os olhos, as mãos um do outro. Ficamos tão felizes juntos que até parece um milagre, se eu ainda acreditasse
Ah quantas lagrimas já verti por ele não estar aqui, pela ausência dele... quero tanto ver de novo essa beleza que só vemos quando estamos apaixonados, essa compaixão e tolerância que se esparrama por tudo e todos... ele é o mais doce, o mais bonito, aos meus olhos,claro! Minha única angustia é a de não encontrá-lo a tempo, porque ando muito perto dos meus abismos e lá é um lugar perigoso, posso cair...
Sabe, um ser humano muda tanto quanto as nuvens no céu, eu queria ainda poder passar a mão nos cabelos dele, no rosto dele, acariciar as marcas da vida e do tempo. Todas as noites meus pensamentos me atormentam como drosófilas em volta das frutas. Ele vem me fazer companhia nos sonhos. Quando acordo minha cama está vazia, ele se foi, fico mais triste ainda... ele já desapareceu.
Ele é meio doido, Guilhermina, mas é por isso mesmo que eu o amo tanto. São esses gramas de loucura que fazem nosso amor ser tão grande. São eles que me dão a certeza que ele é meu homem e eu a sua mulher. O amei a vida inteira, em todos os meus amores. Eles sempre foram grandes. Não sei amar pequeno, é minha sina, meu destino. Nasci assim, não tive escolha.
O outono com suas folhas caídas e seus ventos se aproxima, se eu não o encontrar antes do inverno, mesmo saindo daqui e indo o passar no doce clima do Rio, vou me sentir na Sibéria, lamento, mas assim é.
Por favor, te agradeço, Guilhermina, antecipadamente. Se o encontrar mande me avisar. Vou buscá-lo correndo...
Afetuosamente, mil beijos,
Nine
7 comentários:
Que texto belo e delicado! A Esquina está ficando apaixonante de se visitar! Parabéns Rainha Guilhermina pelo Coletivo que estais a formar!Bj,
Adoro quando vc também aparece por aqui. E sim, a Nine já chegou com esse jeito doce... um presente da blogosfera.
Bj
Guilhermina
Nine querida,
Só vi sua carta hoje, quando o dia já ia avançado. De qualquer forma, guardei um lugar ao meu lado para o caso do seu amor chegar. Enquanto o tempo ia passando, fui relendo várias vezes sua carta para ter certeza de que não procurava a pessoa errada... E já tinha me decidido a remetê-lo para você por SEDEX, com solicitação de confirmação de recebimento.
Mas será que você não se enganou numa coisa? É possível o amor chegar por encomenda? Passaria ele por aqui exatamente no dia em que você não vem? Honestamente, não acredito. Até porque meus olhos não conseguiriam reconhecê-lo. Certamente, a mim, ele não se mostraria da mesma forma. É provável que fosse cerimonioso e distante, um pouco mais baixo... e seus movimentos não teriam a mesma graça que você, e só você, enxergaria.
Seu amor já lhe habita e um corpo não ocupa dois lugares ao mesmo tempo. Ele deve estar nos arredores da sua espera...
Uma vez me ensinaram, no entanto, que é preciso não confundir o amor com nenhum “ele”. Esquecer a procura porque precisamos da nossa energia para fortalecer em nós o dom-ativo, o encontro em disponibilidade, a espera sem ansiedade nem dor. Destrancar o corpo e revigorar a alma pelo alimento das nossas próprias e pequenas felicidades. Ser inteiras e conosco mesmas. Mais abertas que defendidas, capazes de pequenos gestos e de olhares sem medo. Nem do vôo, nem do mergulho...
Então somos capturados por um traço qualquer que o outro tem. Um sorriso de lado, um trejeito das mãos, um tom na voz... sabe-se lá. Chega, sem aviso. E descortina o que só um pode ver no outro. Projeção? Ilusão? Não sei. Prefiro chamar de ponto de partida.
Por tudo isso, vou me nomear a partir de agora chefe de torcida. Primeiro por você e depois pelo que você deseja, ok? Perdoa-me se não posso mais. Garanto-lhe ser com o melhor de mim.
Um beijo,
Guilhermina
Nine, eu apadrinho esse amor com o melhor dos meus abraços - aquele que a gente guarda pro filho ainda por nascer - e agradeço por você te-lo depositado aqui.
Beijos e lágrimas, florzinha!!
é só dobrar a esquina!!!!
Estou, estive e estarei...Sempre por aqui..adorei o q li
Nine,como é que vc perde esta preciosidade??? brincadeirinha ..., adorei a sua carta !! bjs
Postar um comentário